VACA AMARELA

Era uma vez uma vaca, que, por falta do que fazer, reparou na repetição cansativa de manchas preto e brancas nela mesma e em todas as outras.
Inconformada com tamanha obviedade, a vaquinha tentou de tudo: Esfregou-se na tinta azul da cerca, mas veio a chuva. Fez uma dieta à base de flores, e nada. Fugiu, procurou em outros currais, perguntou para vacas longínqüas, em vão.
Voltou cabisbaixa para casa. Ao cruzar a porteira, fechou os olhos e rezou para que, se fosse a vontade do deus fazendeiro vê-la feliz, cores aparecessem em seu lombo. Teve fé. Ansiosa, foi até o lago e olhou o próprio reflexo. Nada mudara, apenas estava mais velha.
Morreu anos depois, sempre insatisfeita. Nunca soube, ao certo, se faltavam cores no mundo ou se era daltônica.

(Reminiscência -
A vaca amarela
abriu os olhos, mugiu,
pulou a janela.
de Cyro Armando Catta Preta)